
SAÚDE Isolamento social proporcionou o aumento da exposição às telas de computadores e smartphones, acarretando elevação dos casos de miopia
A pandemia da Covid-19 alterou a vida em todo o planeta. Com o isolamento social imposto pelas autoridades em saúde pública para conter o avanço da doença, diversas mudanças ocorreram. Consultas foram adiadas, eventos foram cancelados, escolas foram fechadas dando espaço às telas de computador, smartphones, tablets, televisores. Praticamente tudo passou a ser feito de forma digital, fazendo com que os seres humanos ficassem ainda mais tempo expostos a essas tecnologias.
Estudo publicado na revista médica JAMA Ophthalmology, da Associação Médica Americana (AMA), apontou que a miopia (dificuldade de enxergar à distância) é o efeito mais expressivo para a saúde dos olhos durante a crise sanitária do novo coronavírus, principalmente entre as pessoas mais novas.
O levantamento, realizado na China com mais de 123 mil crianças entre 6 e 13 anos, constatou que o isolamento aumentou 400% a prevalência de miopia em crianças com 6 anos de idade. Nos participantes com 7 anos, o aumento foi de 200% e, aos 8 anos, de 40%. “O estado refrativo de crianças mais jovens (de 6 a 8 anos) pode ser mais sensível às mudanças ambientais do que as crianças mais velhas, visto que se encontram em um período importante para o desenvolvimento da miopia”, concluiu o estudo.
Especialistas afirmam que se trata de uma alteração transitória, uma miopia acomodativa, decorrente do excesso de esforço visual para enxergar próximo, que provoca o espasmo dos músculos do olho responsáveis pela alternância do foco para perto, meia distância e longe. Segundo eles, a primeira medida para controlar a miopia causada por esse estilo de vida é intercalar as atividades ao ar livre com o uso dos eletrônicos no dia a dia.
“A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é evitar mais de duas horas ininterruptas diante de uma tela durante a infância”, explica a oftalmologista Ana Carolina Capelanes, do Hospital do Olho de Araçatuba (SP). Para atender à demanda da criança por tecnologia, ela orienta intercalar o uso respeitando o tempo preconizado pela OMS com atividades ao ar livre e exposição ao sol.
Outro dado relevante, este exposto pelo Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), mostra forte queda no atendimento das duas principais causas de deficiência visual no Brasil: falta de óculos e ocorrência de catarata. As prescrições de óculos pelo SUS, por exemplo, que hoje atende 77% da população, diminuíram 61% entre janeiro e abril deste ano em relação ao mesmo período de 2019.
Nos mesmos intervalos a queda das cirurgias de catarata foi de 49%. O medo da Covid-19 e a lotação dos hospitais justificam esta queda. A catarata torna opaco o cristalino, lente interna do olho, e responde por 49% dos casos de perda da visão entre brasileiros, conforme pesquisa da OMS, contra o índice global de 35%. Ao todo, são 769 mil brasileiros dos 1,57 milhão que não enxergam. A especialista ressalta que é preciso ficar atento aos sinais de que os olhos podem estar comprometidos. “Irritabilidade ao final do dia, dores de cabeça, olhos vermelhos e olhos secos, são alguns dos principais sintomas de que algo está errado”, diz Ana Carolina.
DICAS
A posição da mesa de trabalho ou estudo, para evitar os reflexos de luz, e o cuidado com a iluminação e a ventilação, uma vez que a secura do ambiente pode piorar o olho seco, são algumas das dicas apontadas pelo empresário do setor ótico, Danilo Vendrame, para preservar a saúde ocular. “Hoje em dia, também existem lentes de óculos com filtro contra a luz azul emitida por monitores de celulares, tablets e computadores, e o seu uso pode evitar diversas anomalias oculares”, afirma.
O empreendedor lembra também que atualmente existem diversas opções de materiais, marcas e designs, tanto de lentes quanto de armações, que certamente o usuário ficará satisfeito com a proteção, assim como com o visual proporcionado pelos óculos. “Além disso, ter uma alimentação balanceada, tomar cuidado com os objetos que entram em contato com seus olhos, estar atento ao uso dos eletrônicos, mudar hábitos prejudiciais à saúde (uso de cigarros e bebidas alcoólicas, por exemplo) e, consultar o seu oftalmologista regularmente são outras dicas infalíveis para evitar que seus olhos sejam acometidos por alguma doença ou no agravamento de alguma enfermidade já existente”, orienta Vendrame.